quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Reflexões sobre a dor.


1. Da dor:


A dor da alma pode ser de fato dilacerante e nos fazer sangrar até o
limite da exaustação emocional.


Por que as dores da alma doem muito mais que as físicas?

Por que nos dilaceramos nelas num contínuo sofrer?

Por que não sabemos por limites a isto?

Por que não aprendemos com velhos erros?


Estas e outras questões milhares de pessoas pelo mundo afora se fazem, na tentativa de uma resposta encontrar. E nós aqui nos fazemos as mesmas...


Querida, nós sangramos porque dói, e dói porque nos apegamos e nos apegamos porque pensamos possuir algo.

Esta é a grande verdade, querida: Nós nada possuimos, nem mesmo nossa vida que é frágil tal qual pássaro.

Mas há no coraçao humano uma sede incessante de querer, de desejar continuamente, coisas, títulos, pessoas...


Nós precisamos compreender alguns fatores envolvidos no processo do querer, são eles:



2. Da vontade: No universo creio haver três grandes vontades que nem sempre estão em harmonia:



1.1- Nossa vontade.

1.2- A vontade do outro.

1.3- A vontade universal.


(Que alguns denominam Deus ou outros seres).

Nossa cultura ocidental veicula continuamente a idéia de que "Querer é poder".

Crescemos alimentando esta saga, de que tudo que nossa alma almejar, poderá ser conseguido com algum esforço.


Mas ai descobrimos, tais quais crianças que nem sempre é assim.

Que a despeito de nossos múltiplos e contínuos esforços, as coisas, pessoas e tudo mais nos escapam...

E sobre elas temos poucos e ou nenhum controle, nossa mente cria e projeta continuamente que tudo podemos reverter se assim o desejarmos. Mas tal não se da.

Aprender a lidar com essa "limitação" nos reposiciona á real condição de

humanos.


Se pudermos entender este princípio fundamental, que tem origem na culrura oriental atrás do Budismo, denominado "DESAPEGO", saberemos usufruir de tudo o que a vida generosamente nos concede, sem nos apegarmos e quando estas coisas nos forem retiradas, não nos sentiremos roubados, mas gratos.


3. Da generosidade: Naturalmente que não é fácil compreender e aplicar tais princípios, o desapego a tudo e a todos não é um legado de nossa cultura.


E assim sendo modificar tais padrões pode ser um longo e doloroso processo.


Quando cito GENEROSIDADE, falo da generosidade conoscos mesmos...Isto a princípio pode parecer contraditório, mas não é. Costumamos com alguma frequência sermos generosos com os outros, mas com nós mesmos somos terríveis tiranos.


Seja portanto misericordiosa e generosa consigo mesma querida...

Não se culpe por este estado de coisas, não trace metas demasiadamente altas pra você, não se martirize, não se condene, nem tão pouco se obrigue a uma auto-violência, tentando arrancar a todo custo alguém que muito significou.


E, querida, digo isto com conhecimento de causa...Pois passo atualmente por situação bem parecida, aprendendo a lidar com a perda de alguém muito especial.


Portanto, algumas coisas eu não tento mais:


1. Fingir que ele nada significa pra mim.


2. Mentir pra mim mesma dizendo que não me importo.


3. Maquiar minhas emoções, quaisquer que sejam elas.


É preciso de certo modo, vivenciar o luto, através de seus diversos simbolismos: As canções, filmes, fotografias, imagens, locais... É um "lamber feridas"...

Um processo lento, doloroso, contudo necessário, mas que alguns negligenciam ou querem pular etapas, garanto que esta encenação de que tudo vai bem é vão...

Não se apaga um grande amor de um dia para o outro, você ainda vai ve-lo em muitos lugares, ver literal e subjetivamente e deverá aprender a lidar com isso.

3. Da nossa vontade: Como citado anteriomente, nossa vontade não é imperativa como acreditamos, ela choca-se eventualmente com a vontade do outro bem como a vontade universal.


Se não vejamos:


A vontade do outro: O amor que apregoamos não é um pacote único, ele tem pré-requesitos outros que nosso mero desejo de possuir o outro. Ele pressuem respeito, repeito é palavra deveras abrangente. Respeitar alguém e dar-lhe as condições que este precisa para ter vida autônoma, respirar seu próprio ar, fazer suas próprias escolhas.



Não há real amor se não respeitamos de fato o ente amado.


Se o manipulamos segundo nossos desejos e vontades, naturalmente que muitos de nós fazemos isso de forma recorrente, pra nossa vergonha e culpa.


Mas ao entender que o outro por mais especial que seja não tem a responsabilidade de nos fazer felizes, ai, entendemos que colocar sob os ombros de outro ser, ainda que este seja deveras especial, tal fardo, é absurso, cruel e injusto.

Se alguém conosco esteve por breve ou longo período e decidiu ir embora, o que podemos nós fazer? Fechar as portas? amarra-lo? ameaça-lo?


Nada disso funcionará e ainda causará enorme abismo apagando tudo de bom que outrora tiveram.


Sei que nada disto é fácil, que dor é imensa, que as palavras por vezes pouco ou nada significam, contudo, se o amas, largue-o.Largue-o de fato e de direito, permita-lhe que alçe seu vôo...


Se assim ele o deseja, creia-me querida: Não há nada tão nobre, generoso e grandioso que permitir liberdade a quem se ama.


4. Da vontade universal: Costumo dizer que existe mesmo uma vontade universal, que embora o homem seja senhor do seu destino, ele por vezes despara-se com forças outras, que não as suas...



São coisas que escapam ao nosso controle e sobre elas temos pouco e ou nenhum domínio.

O Universo é dinâmico, tudo é movimento, um contínuo "FLUIR"...Comparo a vida e tudo o que temos a um rio... Se permitirmos que ele siga seu curso naturalmente, nossa vida será continuamente renovada, mas se ao contrário, impedimos de algum modo esse fluir, a água estagna-se, empossa e por fim adoece... Segundo Heráclito, um dos primeiros filósofos gregos, a vida é tal qual um rio... E para ele nenhum homem poderia jamais banhar-se duas vezes no mesmo rio, ainda que aparentemente o homem e o rio fossem os mesmos, pois após banhar-se uma vez, segundos após, uma pequena e impercepitível mudança teria ocorrido no rio...e também no próprio homem. Isto deve-se a dinâmica universal que tudo altera a todo instante...Isto é fato, não há o que questionar...


Nossa matéria é efêmera, tudo passa, muda ligeiramente...

E as pessoas que não sabem, não querem ou não podem lidar com ela, recalcitrarão muitas vezes em suas dores...

É preciso entender este movimento da vida que muito trás e muito também leva...


Entender que nossas conquistas são todas elas temporárias...

Que nada, nem ninguém nos pertence.

Que tudo é breve...

Que sob nada temos controle...Que somos seres limitados no tempo e espaço...


E assim sendo, cabe-nos apenas a posição primeiro de gratidão: Ao entender que fomos gentilmente agraciados com pessoas especiais em nossas vidas, ainda que por breve período. Depois atitude de humildade: Pra entendermos que aquilo nos foi concedido e assim como veio se foi...


Ao compreender e aceitar humildemente estes princípios, talvez estejamos pronto pra viver a vida e seu devir em plenitude...

Valorizar cada momento como se fosse o único ( E ele de fato é!) Apreciar cada pessoa em sua singularidade.Respeitar a si mesmo e aos outros.



IMPORTANTE: Este texto foi redigido em acoselhamento á uma moça membro da comunidade que lidero: Clínica da Alma.






















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