quinta-feira, 9 de julho de 2009

Afredo é Gisele.


Completamente hilaria a crônica de Elisa Lucinda é de uma pertinência impressionante, das mudanças de valores e de todos os paradgmas
que nossa sociedade precisa romper em termos de tolerância e respeito.

Sora vê, daqui do táxi a gente sabe é cada coisa... Sabe e aprende, aprende até a não ter preconceito. Outro dia peguei um casal assim já de meia idade, bem apessoado, lá no centro, no Teatro Municipal. Eles tinham ido vê uma tal de uma Ópera, sei lá. Já eram umas 11 e meia da noite, a gente veio bem até o Aterro, entramos em Botafogo e o trânsito emperrou.

A mulher já azedou na hora e foi falando para o marido: - Que trânsito é esse, quase meia noite? Não é esquisito, Alfredo? E o tal do Alfredo parecia um homem rico mas não era fino, sabe ? E não gostava mais dela, eu acho. O cara era uma múmia. A resposta dele pras conversas da mulher tavam mais pra rosnado, sabe? - Alfredo, isso não é uma absurdo? Nós aqui parados num trânsito quase de madrugada, não entendo, é estranho, hoje é sábado. Será que é algum acidente, Alfredo? Como o homem não dizia nada, aí e eu interrompi: com todo respeito sabe o que é isso madama? Simplesmente aqui virou um lugar só de "homensexuais" e mulher sapatona.

É cheio de barzinho deles, a rua toda. Fim de semana ferve. Quem quiser ver homem beijando homem e mulher se esfregando em mulher, é aqui mesmo. - Você tá ouvindo, Alfredo? Meu Deus, eles agora tem até bar pra eles, até rua!? Não é um absurdo, Alfredo? - Ô Onça, cê me conhece, sabe bem como é que eu sou. Pra mim isso se resolve é na porrada. Se eu sou o pai, desço do carro e não quero nem saber o que é que entortou, o que é que virou, não quero saber o que é cú e o que é fechadura, baixo o sarrafo na cambada! Eu, com sem vergonhisse, o sangue sobe, eu viro bicho. - Pára de falar essas palavras de baixo calão, Alfredo. Hum! Fica de gracinha que a pressão vai lá nos Alpes, você sabe muito bem o que é que o médico falou ..., não é motorista? Alfredo não é muito esquentado? Eu dei o meu pitaco: - É madame, o negócio que ele tá falando é como eu vi no filme.

Uma metáfora. Ele não vai bater, vai só ficar zangado. - E o senhor sabe o que é metáfora? O senhor entende de metáforas? Escuta isso Alfredo! O que é metafora, seu motorista? - Metáfora pelo que eu entendi é assim: aquilo não é aquilo, mas é como se fosse aquilo. Então, em vez da gente dizer que aquilo é como se fosse aquilo, a gente diz que aquilo é aquilo. Mas não é. É como se fosse. Foi? - Eu acho que o senhor tá certo, mas na verdade eu estou é chocada com essa libertinagem. Olha aquele homem... que safadeza me Deus! E de bigode ainda! Escuta isso Alfredo! - Escutar o quê, Coisa? - O que eu estou vendo, gente! Ai, Alfredo, não está vendo? Parece que é cego, não é motorista? - Hoje tá até fraco. Eu falei. Hoje nem tem os “general”? - Quem são? Escuta isso Alfredo? - General das sapatona é aquelas de coturno que parece mais com um macho do que qualquer coisa. E o outro general é o homem transformista que é a traveca, mas anda é na gillete mesmo. - Tá ouvindo, Alfredo? A violência e a decadência como estão? - E a gente vai ter que ficar parado nesta merda, ô Coisa? - Calma Alfredo, não fica nervoso! Isso é questão do nível das pessoas.

A gente que tem... não é motorista? ... mais condições, temos que entender essa...,essa..., como é que eu digo, meu Deus? Essa... - Putaria! Falamos juntos, eu e o tal do seu Alfredo com cara de doutor de num sei de quê. - Cruzes Alfredo, não era isso que eu ia.... Alfredo, olha aquela moça! Gente, uma menina, dezoito no máximo, e a outra maiorzuda no meio das pernas da coitadinha, fazendo sabe lá o quê !!! Tá vendo Alfredo aquela alí? Alí, aquela Alfredo, em cima do carro! Olha lá Alfredo, a mão da grandona na menina! Elas vão ser beijar na boca, minha Nossa Senhora... - Que transitozinho, hein? nunca mais viremos por Botafogo, tá decidido! - Mas Alfredo olha a menina! Tá beijando, tá beijando, tá beijando Alfredo! Ela parece...

Alfredo é Gisele! Alfredo! Nossa filha!? - Filha da puuuutaaa... E desmaiou o tal doutor, enquanto a jararaca da mulé ventou porta afora de sapato na mão atrás das duas e eu pensando: não quero nem saber, encosto aqui mesmo e espero o resolver, que uma corrida dessa eu não vou perder, que eu não sou bobo e nem sou rico. É ruim de eu ir embora, heim? Então eu fiquei naquela situação: eu com um cara que era um ex-valente todo desmaiado no banco de trás parecendo uma moça, a mulé saiu pisando forte que nem um general, quer dizer, tudo trocado e eles reclamando da filha. Se eu pudesse eu ia lá defender a moça, mas não posso, já que o negócio é de família, né? Eu não tenho preconceito, mas é isso que eu tava falando pra senhora: daqui a gente sabe cada coisa! E é cada um com o seu cada qual.

Se desejarem, indico na voz de Ana Carolina.

FONTE:
http://www.escolalucinda.com.br/bau/alfredoegisele.html



FONTE:
http://www.youtube.com/watch?v=btseNflc2fo

2 comentários:

Bronca no Trombone disse...

Interessante essa crônica. Mostra bem como é o mundo de hoje. E isso é só a "ponta do iceberg"...

Maria Betânia disse...

André,

Interessante mesmo é vc ouvir ela sendo narrada na voz da Ana Carolina.
É simplesmente hilária.
Vou procurar o vídeo é por aqui.

Grata pelo comentário.

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