terça-feira, 7 de julho de 2009
Casamento
Este é um de meus poemas preferidos, aprecio nele a forma simples
como Adélia descreve o cotidiano de um casal e encontra charme e encatamento onde outros veriam apenas algo trivial e talvez até incômodo.
Casamento.
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Adélia Prado
Texto extraído do livro "Adélia Prado -
Poesia Reunida", Ed. Siciliano -
São Paulo, 1991, pág. 252.
FONTE: http://www.releituras.com/aprado_casamento.asp
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário